sábado, 28 de novembro de 2009

Momentos

Ontem vi-te. A noite que nos envolvia não deixou que te envolvesse com o meu olhar. Não deixou que te visse nitidamente as feições. Não me deixou matar as saudades. Mas eras tu. Durante meses, ignorei a tua existência. Desisti de te procurar nos teus lugares. Desisti da esperança. Até que, te atravessaste mais uma vez no meu caminho.
A inocência da saía. A pureza do acto e o silêncio da noite. Tudo num só segundo. Deste-me aquilo que eu te queria dar, desprezo. Mas como sempre, antecipaste-te a mim. Do beijo à despedida. Tu sentiste-me muito antes do que eu a ti. Deixei que os contornos do momento fossem desenhados pela multidão, sem saber que fazias parte dela.
Sabes? Será que sabes a dimensão do que sou? Sabes, e por isso me desprezas. Não me julgo mais do que sou, tu é que me julgas. Julgas-me capaz de me atravessar no teu caminho. Mas eu não o fiz. E é isso que te assusta. Antecipas-te a mim, porque nunca consegues prever o meu próximo passo, sem saber que o dás primeiro que eu.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

A promessa

Nesta noite dançada vou levar-te ao limite de quem sou. A realidade desce sobre nós como uma parada fúnebre. Nós ouvimos e sentimos. Mas sentimos como nunca antes sentimos. Deixamos que o toque seja a folha de papel. Deixamos que o som deixe de ser o comando da vida. Vamos renunciar às palavras. Vamos renunciar ao amor e juntos, vamos renunciar da noite. Do dia. E mais tarde, da vida.
Existe algo que não compreendemos. Existe ainda um oceano mais fundo, e uma noite mais quente. Existe algures uma sepultura onde todas as mágoas jazem. Mesmo que queira, não a encontro. E o silêncio que emana dela traz-me todas as noites as lembranças mais dolorosas. O mundo paralelo. É a perdição e o encontro. É o desejo e a loucura. É a fome e a morte. É a insustentável dor do belo, do perigo. Do amor. Da saudade.
E o sangue derramado não passa de uma celebração à vida. Nunca fiz por o ter, mas a vida dá-me tudo, e tira-me aquilo que mais quero. Prepara-te para saíres dela tão depressa quanto entraste porque eu, passei a querer-te.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

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As lembranças atraiçoam-me quando menos espero. Gostava que o poder da palavra fosse o suficiente para me afastar. Mas não é. Custa-me imenso conviver com a dor de perto, e fingir que não a vejo. Mas ela emana de ti, para que todos nós possamos senti-la. Mas sabes porque fingimos que não sentimos? Porque seguimos o teu exemplo. O amor superior à dor eleva-te de uma maneira insuportável, imbatível, e dolorosa. Não te invejo, nem te aguardo. De ti, espero tudo e não espero nada. Manténs te escondida entre a aparência do silencio e do amor eterno, e nós mantemo-nos na aparência da ignorância e submissão.
Os caminhos traçados não se apagam. As amizades perdidas não se recuperam. A dor sentida não se esquece. O sorriso triste apenas permanece.
Quando o teu caminho se fundir com o nosso, e a desconhecida que te tornaste te magoe tanto como nos magoou a nós, não peças desculpa. Só digas olá, e finge que nada aconteceu porque nós, faremos o mesmo

segunda-feira, 16 de novembro de 2009



If you were a king up there on your throne
Would you be wise enough to let me go?
For this queen you think you own


Wants to be a hunter again
Wants to see the world alone again
To take a chance on life again me
So let me go, let me leave

sábado, 14 de novembro de 2009

Utopia

Só queria o Paraíso que me negavas. Só queria um beijo esquecido e a felicidade passada. Apetece-me gritar com a força do desejo suprimido. Da tristeza conformada e da saudade apagada. Queria tanto que soubesses os tamanhos dos meus sonhos. Mas afinal, tu sabias. Foi por isso que os estragaste. A inocência esquecida atrás do Muro do pecado traz-me de volta á realidade que escolheste para mim. No final de tudo, apenas eu me sinto traída. Traí-me a mim e a todos os outros. A única diferença, é que só eu tenho lágrimas secas para deitar. Sorrisos estragados e memórias estagnadas.
Deixei uma etiqueta com o teu nome no meu pior passado. No meu mais importante momento e mais penoso sofrimento. Deste-me os parabéns quando devias dar os sentimentos.

E, no final de tudo, sempre consegui transformar-me na utopia que desejava. Queria tudo sem ter nada. Agora, não quero nada, mas tenho tudo. A utopia da aparência satisfaz-me a mente. O corpo, esse, deixo para trás juntamente com o sonho de me pertenceres. Desisti de ti, mas nunca vou desistir de mim. Porque desistir de ti, só os vencedores o fazem, mas desistir de mim, é para os piores perdedores.

Acidentes

Naquela noite, a verdade era disfarçada pelos enganos de todos à minha volta. Não bastava um simples beijos ou empurrão para tornar a vida diferente. Já era. Mas ninguém notava.
A degradação da vida. Do corpo. Da alma, estava a falar mais alto, e fizeram-me tomar a decisão certa. O pouco poder que possuiu leva-me a escolher ficar em terra. Prefiro viver menos, e ter o Mundo na palma da mão. Conseguir fazer gira-lo ao contrario e ganhar o Mundo de todos os outros. Não porque os queira, mas acabarão por ser meus. Convenceste-me sem falares. Calas-te e mais tarde beijaste.

Afinal, não seria tudo mais fácil se os remorsos de ser quem sou não me afundassem cada vez mais? Não.

domingo, 8 de novembro de 2009

Os Homens Nao Choram

A tristeza é um estado passageiro retratado por longos silêncios. A angústia de partilhar a tristeza infinita que abala o mundo tal como o conhecemos é levada para longe por estereótipos imaturos e indolores. Não te quero ver assim, mas estás mais vezes do que aquelas que não contas. Que não sentes. Que não mostras.
O sorriso que sinto falta é apagado por o muro de recordações que criaste á tua volta. Não te deixas levar pela felicidade da vida, e eu não deixo que ela seja apagada.
Continuas a viver no engano da tristeza, combatendo-a com a aparência do silêncio. Sabes porque pai? Porque os homens não choram.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

A tarefa III

Fugi. As caras que me perseguiam colocam-me no limite das forças. Escondi entre os dedos as marcas da minha loucura. Mas sabia que não era ali que queria estar. Passei os portões da escola sem olhar para trás. Não simbolizavam nada mais do que aquilo que realmente são. A entrada do inferno. Abandonei a vida quando ela me abandonou a mim. E voltei a fugir.
A cobardia insensata que predomina em mim e o desejo insano de me salvar de todos os outros levou-me uma vez mais aquele cemitério. Voltei a passar os Portões. Não tive medo como outrora tivera. Apenas me senti sozinha, porque sabia que ali, não tinha ninguém que me ouvisse. Dirigi-me ao tumulo dele. Sentei-me e olhei demoradamente para a fotografia. Já não consigo contentar-me com aquela fotografia. Está gasta de tanto a olhar. Está vazia de tanto o esperar. Está interdita de a morte nos separar. Se gostaria de morrer? Esta não é a verdadeira pergunta. Se gostaria de viver? Apenas sobreviver.
A mulher chegou por de trás de mim e olhou-me nos olhos. Não fez perguntas. Sabia que não ia responder. Limitou-se a sentar ao meu lado e declarou:

“ As promessas são para cumprir, e eu nunca consegui cumprir a que fiz ao meu filho”

Tenho uma tarefa para terminar.

domingo, 1 de novembro de 2009

Reflexões. II

A terra é pequena demais para todos os vivos e todos os mortos que ela contem. Centenas e centenas de gerações. Amores e desgraças pisaram o chão que eu já pisei. Viveram aquilo que eu já vivi e choraram aquilo que eu ainda tenho para chorar.

Passei por aquele cemitério porque ficava na rota da minha comum vida. Decidi entrar. Sem destino e liberdade. Dirigi-me ao túmulo que figurava nas minhas ambições. Olhei em volta e não estava ninguém por perto. Sentei-me no chão. E simples acreditar no amor quando sabemos que é impossível. Ate hoje, limitava-me a lutar porque achava que tudo era possível. Depois desistia, derrotada. Gritava contra os amores impossíveis e perdia a paz de espírito. Finalmente, consigo sentir o que é a derrota. Não se trata de uma palavra, de uma pessoa ou de um momento. A única barreira da vida é a morte. Deparei-me com ela, quando olhei para o túmulo dele. A tristeza infinita abalou o Mundo que construi à altura dos meus sonhos.
Levantei-me e andei pelas secções de famílias. Histórias enterradas. Não me apetecia ir embora tão cedo. Apetecia-me desenterrar todos os segredos e vidas que não cheguei a conhecer. E dei por mim a depositar uma rosa branca no túmulo da minha vida. Se nos desencontramos, porque continuo a viver à tua espera?
Liberta-me.