domingo, 24 de maio de 2009

Verdades

A vingança serve-se fria. Não espero nem tenciono esperar. Na verdade, a noite revelou-me mais do que aquilo que eu imaginaria. Revelou-me o verdadeiro sabor dos teus beijos e a essência do teu perfume. Não era um perfume qualquer. Era o teu perfume. Tudo em ti me bastava. Agora já não. Não me bastam os teus beijos e as palavras proferidas em vão. Não me chegam os carinhos e o sabor. Diminuíste de tamanho, e eu diminuo o espaço que tinha para ti.

O criminoso volta sempre ao local do crime, mas nem sempre volta a matar.

domingo, 17 de maio de 2009

Marés

Continuas a pertencer-me. O único que ainda não sabe, és tu. Ignoras me para te conseguires ignorar. Danças a musica que eu te dou. Lutas pelo beijo que não dou. Sofres por o olhar que não chega. Choras pelo amor que não há. Dou te o dia e a noite. Dou te o mar a praia. Flutuas. E eu continuo a vigiar-te. Apenas quando te tornares num verdadeiro náufrago te salvarei. Até lá, deixo-te á deriva, como me deixaste a mim.

sábado, 16 de maio de 2009

Noites

Hoje chove. Abri a janela e coloquei a mão do lado de fora. A queda de chuva era irregular. Choviam grandes e pequenas gotas. Cobriu tudo com água, como se de repente também o céu me quisesse acompanhar na sinfonia de lágrimas que me cobriam o espírito. Assim sendo, deixei que me fizesse companhia. Choveu toda a noite. Dentro e fora de casa. Eu chorava pelo céu, e ele por mim. De manhã, o sol teimou em secar a água que derramamos. Não conseguiu. Só a chegada do Verão irá conseguir faze-lo.

terça-feira, 12 de maio de 2009




A armadura nao sai.
Gostava de saber chorar-te. O meu luto prolongado mantêm-se firme a ti, e preso a mim. Não visto preto, mas carrego-o. Leva o dourado do teu corpo e o verde dos teus olhos para longe da minha vista. Não preciso da áurea da tua felicidade diante dos meus olhos. Não preciso de ouvir o teu nome em cada esquina e ver a tua sombra em cada rua. Sou a sombra da sombra que fomos. Nada mais.
A dolorosa consciência serve me de inspiração e alento para sobreviver apenas com a dor da verdade. Os espaços em branco das palavras que ficaram por dizer foram preenchidos pelo silencio da nossa vida. Não há gritos nem vozes. Há o silêncio de um luto prolongado. Sinto-me num funeral a dois. Tu, que morreste, e eu, que choro por ti.

Pergunto-me quando serei forte o suficiente para te cobrir com terra.

terça-feira, 5 de maio de 2009


O som monótono que se fazia ouvir ritmava o meu corpo. Passava em cima do alcatrão como se pisasse o vermelho. Não queria mas também não fugia. Deixava que tudo de prendesse. Sempre foi assim. Só que nada dura mais do que um segundo. A paisagem abre alas a novos horizontes. Os sons do salto alto deixam de se ouvir e finalmente torno-me na mortal que sempre fui.

Não amo. Não desejo. Não ambiciono. Sou condicionada por o que sou e não pelo que idealizas. Permites acabar um sonho para começares o meu pesadelo. E eu, apenas deixo que ele continue. Sempre assim fomos. Um dia, vou tentar novamente amar-te. Um dia, pode ser que não voltes a fugir *

sábado, 2 de maio de 2009

(A)




Um dia de (a)manha.
Acordei. O aparelho das novidades estava pousado sobre a mesa. Não o esperava nem sequer suspeitava de um sinal de vida teu. Mas ele apareceu sem pedir licença. Lá estava o nome que eu perdi. Lá estava a mensagem esquecida. Lá estavas tu, tão vivo quanto eu. Um sinal, que vem demasiado atrasado para a história apagada.
Mostraste-me que estás vivo, e agora sou eu que me faço de morta. Não vivo no teu Mundo. Não me incluías nos teus sonhos. Não me desfaças na realidade. Perdeste-me depois de te perder. Mas sabes qual e a diferença entre nós? O criminoso volta sempre ao local do crime.