sábado, 31 de outubro de 2009

A descoberta. I

Apenas mais um dia cinzento. O nome que lhe era atribuído servia de desculpa para a atribulação dos corpos. Não conseguia esperar nada mais do que aquilo que me era dado. Limitei-me a caminhar por aquele cemitério sem destino. Parava para olhar as fotos e ler as frases desprovidas de sentimento gravadas. Olhar em volta e ver os vivos a velarem pelos seus mortos. Uns choravam, outros nem sequer os conheciam.
Foi então que cheguei aquele tumulo. O branco imaculado não me surpreendeu. Só a data. Tinha a minha idade. Tinha o nome proibido. E jazia no chão que eu pisava. Consegui perceber a cara, as expressões e o sorriso. Não pisámos o Mundo no mesmo tempo, nem na mesma geração. Faleceu antes da minha chegada. E lá estava eu, a olhar para o túmulo imaculado, decorado com rosas brancas. Permaneci lá mais um bocado, esperando encontrar uma resposta. Não encontrei. Vim para casa. Não encontro ninguém que me de a paz de espírito que encontrei ali. Não e uma pergunta, é uma afirmação.

O que acontece quando as almas se desencontram?

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Pioneer the falls








Tentei aprisionar em mim as lembranças que aos poucos se vão apagando. Nunca percebi para que as quero. Também não está feito para perceber. Sei que agora, existem sentimentos sem nome, a pairar sobre mim. Tento afastá-los. Tento ignorá-los e muito depois, matá-los. Só hoje percebi que as lembranças é que me matam, e agarrada a elas vem os sentimentos sem nome e sem rosto, que me levam à loucura. Poderei morrer sem alma ou vaguear sem coração? Então porque existem recordações sem dono e sentimentos sem dor? Não sei, também nunca os tive. Li algures. Senti-los? As lembranças apagaram-se. As palavras gastaram-se. A dor agonizou-se. O presente acomodou-se. E eu finalmente conformei-me, resignada mas infeliz.


D - ‘ O presente leva-te a vida que pensas que não tens’
Ar - ‘ O presente apenas me arrasta a vida que não quero para o passado’
D - ’ Para o passado existir, tiveste de o ter primeiro. Tiveste de o sentir e concretizar em ti tudo aquilo que quiseste.'
Ar - ’ o problema, é quando não quero mais. Mas o presente escapa-me e traz me o futuro incerto. E esse, não posso julgar. ‘
D - ‘ Sabes porque? Porque sabes mais sobre ele, do que ele sobre ti. Ele pertence-te, mas tu ainda sabes’
Ar - ‘E ele virá e passará, eu vou acabar por não saber’

sábado, 24 de outubro de 2009

Lembras?

Decidi colocar a tua fotografia numa prateleira empoeirada. Decidi pegar fogo às tuas lembranças e apagar os vestígios do meu corpo. Decidi pintar as paredes de azul e os móveis de branco. Esqueci cavalo branco e a noite quente. Finalmente, deixei de sonhar contigo. Não figuras nas minhas ambições, nem nos meus receios. De ti, espero a imparcialidade de alguém invisível. E em noites como esta, em que te via do alto e te sentia mais longe do que aquilo que realmente estavas, decidi que sempre o tiveste. Apercebi-me que nunca destrui o muro. Nunca acabei com as saudades. Nunca fiz esquecer pessoas. E tu, limitaste-te a observar a minha busca pela infelicidade que me porporcionavas.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Regresso

tiveste os teus 12 dias de luto. Nao te dou nem mais um segundo. O regresso sabe-me a vinho e à melhor fantasia.

sábado, 10 de outubro de 2009

O final repete-se. Mas não interessa. Fica a história. A tua personagem, por mais que não queira, será imortalizada pelo sonho de me pertencer. De ti, fico apenas com o final triste, com o sapato de cristal e com a melodia triste. De ti, fico com a lembrança de um olhar, uma noite e uma vida. De mim, ficas com o Mundo que te dava. Ficas com o sonho. A esperança. A lágrima. A história. De mim, ficas com a idade. Com o beijo. Com a noite. Não peço mais que 5 palavras. Mas dás-me apenas uma.
Agora, vou ficar uma vez mais pela terra que te pertence. Com os amigos que são teus. Com os sorrisos e também com as lágrimas. Foste a minha ultima esperança, mas também a maior de todas. A desilusão já não sabe a isso. A tristeza já se confunde com um permanente estado de espírito. O amor já parece a saudade. A frustração uma vontade de viver. Só te pedia o Mundo. Mas nem uma Noite conseguiste dar. Não me deste escolha, não te dou razão.
Os textos já se repetem. As palavras já me enjoam. As promessas já magoam. As lágrimas já não escorrem. Chegou a altura de viver com o que se tem e parar de esperar pelo que não se tem. Sim, desisto. Desisto do Mundo, mas só porque ele desistiu de mim. Desisto da escrita, mas só porque ela já não existe . E finalmente, desisto de ti, só porque sei que nunca mais.

Era uma vez. 10 de Outubro de 2009

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Páginas

Tudo o que eu podia? Podia ser o Mundo e o refúgio. O porto e o alto mar. Podia dar-te o sol e vender-te a lua. Comprar uma estrela e queimar o céu.
E tu? Podias deixar.
Mas enquanto não tirares a armadura, continuo a figurar um mundo sem ilustrações. Tu não deixas colorir, mas eu não me deixo apagar.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Uma vez, é por acaso.
Duas vezes, é coincidência.
Tres vezes, já é qualquer coisa.

Mas sabes que mais? Nunca acreditei em coincidências.

sábado, 3 de outubro de 2009

Tiger




Pensei que a voltaria a enterrar como em tempos fiz. Mas parece que o destino a chama, quando mais ninguém o faz. Voltei a desenterrar a dor de lutar. Com ela, voltou o fogo e a esperança. A raiva e a vingança.
Prepara-te, enquanto me disseres o não, estarei à tua altura. Serei a sombra na noite e a luz no dia. Não terei paz, enquanto não disser que serás meu. Prendes-me com a recusa de me pertencer. Não encaras a vida com um jogo, mas cuidado. Estas dentro de um sem saber, e enquanto eu não for a tua rainha, não deixarás de ser o meu Rei. Mesmo que isso custe uma vida, um dia, ou uma hora.

Voltei, e pior que nunca.