quinta-feira, 11 de junho de 2009

K*

Éramos doentios. O pacto silencioso arrastava-nos para a loucura da noite, fazendo-nos esquecer a lucidez do dia. Não o dizia, mas secretamente esperava. Espera-te ardentemente, sabendo que os únicos momentos em que me era permitido ter-te eram nas noites regadas a álcool, em que a dolorosa consciência não se atravessava no nosso caminho.
Por causa de ti, transformei a noite no dia e as horas nos minutos. Nada me chegava. Nenhum beijo me saciava e nenhuma palavra me calava. Não te queria mas desejava-te. Afastava-me quando na realidade te prendia. Nunca percebemos, mas a barreira invisível tornou o pecado mais aliciante, os beijos mais escaldantes e o perigo mais delirante.
O dia traz-me a realidade. E tu não a és nem nunca foste. Traz-me a dor e a decepção. Talvez porque só existas de noite. Talvez porque só sirvas para o pecado. Talvez porque não goste de ti. Ou talvez porque goste.
Está a entardecer. Não te recordo com tristeza nem sequer com saudades. A noite aproxima-se e quer estejas incluído nela ou não, ela pertence-te. Mesmo que seja apenas em sonhos. Mesmo que nunca dure para sempre. Mesmo que não me ames, Não importa. Os pecados são incapazes de amar, por mais que digam que sim. Mesmo que te tente amar, e nunca passe disso.

Mesmo que tudo esteja a desaparecer. Mesmo que te estejas apenas a tornar no mortal que sempre foste.

1 comentário:

  1. "Por causa de ti, transformei a noite no dia e as horas nos minutos. Nada me chegava. Nenhum beijo me saciava e nenhuma palavra me calava. Não te queria mas desejava-te. Afastava-me quando na realidade te prendia. "


    Uwouuuuuu!

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tremidélaaas